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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A infelicidade me incomoda, não tenho vocação para ser infeliz!



Como diz o poeta Chico Buarque "todo dia ela faz tudo sempre igual"... Estes dias estive matutando como viver é um negócio estranho, analisando tive a certeza que viver é uma mesmice, uma rotina diária. Dia após dia, acordo, como, trabalho o dia todo, vou para casa, como, durmo, acordo, trabalho mais um pouco e os dias passam sem que eu perceba, segundo Ana Paulino "sem que eu perceba o tempo anda me riscando com uma navalha, sem pressa, sem raiva, apenas deixa sua marca pra me lembrar que ele passou."

E no final-de-semana, na maioria das vezes, faço a mesmíssima coisa sempre. Raramente tenho alguma atividade ou evento que diga, nossa, a muito tempo não me sentia tão bem. Ah, tem um porém, como não bebo e nem sou de farra, fico entediada com grande facilidade. O máximo de tempo que consigo ficar em algum lugar e ficar bem, sem vontade de ir embora, são duas horas. Gosto e preciso ficar em casa. Eu olho para as pessoas a minha volta e penso, que felicidade é esta, como podem estar tão felizes, assim, do nada?

Não que eu desgoste de rotina, gosto e preciso dela, para mim e segundo a Psicologia, ela é estruturante por proporcionar-nos sentimentos de estabilidade, segurança, maior facilidade de organização espaço-temporal e a libertação do sentimento de estresse que uma rotina desestruturada pode causar.

Todavia, viver é destino dos fortes em qualquer lugar, como fica patente pelo desabafo de Vladimir Maiakóvisk censurando o suicídio de seu amigo Sierguei Lessiênin: “difícil não é a morte, mas a vida e seus ofícios.”

Sábado passado acordei sem mais e nem porque com uma tristezinha no coração, sabe aquele incômodo que fica lá e que apareceu do nada, aquela angústia gratuita? Pois é, era esta a sensação. Fiquei assim o dia todo, no domingo idem, comentei com meu marido e ele disse, de vez em quando acordamos assim sem maiores explicações. Só que tem um porém, eu não gosto destas tristezinhas sem motivo quando está tudo bem a minha volta, para mim tem cheiro de ingratidão, como corrobora Johann Goethe, segundo ele, "ingratidão é uma forma de fraqueza. Jamais conheci homem de valor que fosse ingrato." Já Victor Hugo acredita que somente "os infelizes são ingratos; isso faz parte da infelicidade deles."

O final-de-semana passou e cheguei a seguinte conclusão, para ser feliz de fato, nada pode me incomodar. As coisas tem que estar bem e em ordem.

Por exemplo, se minha irmã liga e diz que meu sobrinho está internado já fico preocupada, ligo todo santo dia para saber se está tudo indo bem. Se a outra irmã liga e diz que será transferida para outra cidade mais distante ainda do que ela está, já fico com uma ruga na testa...

Para eu estar bem e em paz, tudo ao meu redor precisa funcionar como uma linha de produção automobilística, que para ser considerada 100%, ela precisa ser automatizada, absolutamente limpa e quase silenciosa, onde os trabalhadores raramente fazem esforço físico.

A minha felicidade sempre esteve condicionada a algo ou alguma coisa que precisava ser resolvida, que precisava ter um fim.

Quando era criança, dizia, depois que crescer e for dona da minha vida, serei feliz, depois que tiver dinheiro, serei feliz. Quando deixar de morar com os meus avós, serei feliz. Quando tiver minha casa própria, serei feliz. Quando minha mãe se curar do câncer, serei feliz. Quando o luto pela morte da minha mãe terminar, serei feliz. O tempo foi passando e vieram outros "poréns", quando conclui a faculdade de Direito, serei feliz, quando o meu pai se curar, quando o luto pelo falecimento do meu pai passar, quando eu tiver um emprego melhor, quando eu me realizar profissionalmente, quando, quando, quando, tinha sempre uma "sine qua non."

Vivo em busca da tal felicidade plena, esta tranquilidade que aquieta a alma, o corpo e o espírito, estou em busca de soluções para as minhas incertezas e desassossegos, além de que estou sempre trabalhando para evoluir e aprender coisas novas. Porque o meu objetivo de vida é chegar aos 90 anos praticamente zen budista, este tipo de gente que consegue meditar, abraçar árvores, fazer piqueniques, destas pessoas que dizem: se a tempestade não passar eu danço na chuva e serei feliz mesmo que encharcada.

Passei por alguns momentos realmente difíceis em minha vida, assim como todo mundo, e que me abriram a cabeça, o coração, os olhos e ouvidos para o que é realmente importante e para o que merece a minha atenção e cuidado. Hoje vejo que o que me faz feliz de verdade é estar com a minha família. Também fico extremamente feliz quando viajo, quando conheço coisas novas e lugares diferentes...

Transformei esses momentos que me fazem feliz em prioridade, entretanto viver não é fácil, viver de maneira satisfatória é para os obstinados, todo dia apesar de ser aparentemente igual ao outro, é um novo dia, é um presente, e ser feliz diariamente, sem o tal bichinho da tristeza e da insatisfação te corroendo, independente do que está acontecendo a sua volta é um exercício diário.

Sei que devo valorizar a poesia da vida quotidiana, por isso esta eterna busca, como diz o poeta alemão Rainer Maria Von Rilke "se o quotidiano lhe parece pobre, não o acuse: acusa-se a si próprio de não ser muito poeta para extrair as suas riquezas."


7 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom! Escrevi algo a um tempo atrás, perdi o foco devido a problemas pessoais. Estou tentando retomar a minha linha de raciocínio. Tenho dois projetos inacabados e um à começar. Rildo Oliveira

Anônimo disse...

Kika, também não gosto de me sentir infeliz - Por isto tenho buscado me aprimorar na técnica de dançar na chuva!! Bjos Kenya Figueiroa

Anônimo disse...

Ai amiga que luta! Hj mesmo estava pensando nessa felicidade plena, qdo ela virá, se virá...e me deu uma sensação de que o tempo anda se esgotando... Agda Cardoso

Anônimo disse...

Muito bom!!! Nos faz refletir no dia a dia, ser feliz hoje agora, apesar da rotina do dia a dia tentar fazer o máximo de coisas que nos faz feliz, que nos traga a felicidade.....

Anônimo disse...

"Viver não é fácil, viver de maneira satisfatória é para os obstinados, todo dia apesar de ser aparentemente igual ao outro, é um novo dia, é um presente, é ser feliz diariamente independente do que está acontecendo a sua volta é um exercício diário."
Gostei muito dessa parte. :) Fernanda Acássia

Anônimo disse...

Excelente o texto em todos os sentidos do que deva ser um excelente texto. Conteúdo refinado com as citações no lugar certo, expressão de significados que vem de dentro de você e coragem em se desnudar. Pode publicar meu comentário se quiser, pois não sei fazê-lo.

Um grande abraço para contribuir um pouco com o seu "ser feliz".

Sônia Diegues

Anônimo disse...

Lindo texto, parabéns!!