Tenho necessidade de encerrar
ciclos, é um desejo tão latente, que por vezes me entristece, me angustia. Quando
e aonde isso começou? Não sei responder de bate-pronto, todavia, desde que me
entendo por gente não aprecio a sensação de deixar rabichos. Necessito dos
pingos nos “is”, das perguntas e suas respectivas respostas.
Vivo melhor quando sei as
etapas do processo, quando há planejamento. Pensando bem, jamais seria
pesquisadora, como aqueles pesquisadores das reportagens “depois de trinta anos
de pesquisa eis a conclusão que chegaram”. Misericórdia, me dá até taquicardia,
pensar que ficarei debruçada em um mesmo projeto por três décadas. Sei
perfeitamente que são graças a estes nobres profissionais que há a cura para diversas
doenças e descobertas inovadoras dignas de Prêmio Nobel, mas, definitivamente,
não é para mim.
E como tudo na vida tem os prós e
contras, este meu lado, início, meio e fim, tem uma grande vantagem, sou
desapegada, sim, no sentido mais literal da palavra, desprendida, das coisas,
lugares e pessoas. Se é para terminar, que termine logo, se a doença é incurável, não há medicação no mercado capaz de dar uma vida digna a este ser humano, sem sofrimentos, o melhor é a morte o mais breve possível. Se é
para ir embora, que vá, leve todos os seus pertences e preferencialmente nem olhe para trás.
E comigo não tem essa de ficar
remoendo, guardando mágoa, de um jeito ou de outro as coisas precisam e devem
ser resolvidas, caso não seja possível pelo amor, será pela dor mesmo, e se é
para sofrer que soframos logo tudo de uma vez, nada de sofrimento em doses
homeopáticas, porque vim a este mundo para ter vida e vida em abundância, e consequentemente ser feliz.
As coisas passam, e o melhor que
fazemos é deixar que elas realmente terminem, colocando o devido ponto final,
isso mesmo, ponto final e não reticências, nada contra elas, entretanto, todas
às vezes que as vejo em um livro, texto ou frase me vem aquela sensação de
inacabado. Faz-se necessário deixar as coisas realmente irem embora e se abrir
para o novo.
Experimente encerrar ciclos,
organizar os armários, a papelada, a casa, o coração, as contas, a sua vida. “Não
por causa do orgulho, por incapacidade ou por soberba, simplesmente porque
aquilo já não se encaixa mais na sua vida.”
“Feche a porta, mude o disco,
limpe a casa, sacuda a poeira”, faça isso em um cômodo de cada vez, em uma
pasta por vez, não adianta abrir várias frentes de trabalho e deixá-las
inacabadas ao longo do caminho.
“Deixe de ser quem era, e transforme-se
em quem é ou gostaria de ser”, mas comece devagar, como diz a poeta, porque a
direção é mais importante que a velocidade.
Desapegar-se, é
renovar votos de esperança de si mesmo. É dar-se uma nova oportunidade de
construir uma nova história melhor. Liberte-se de tudo aquilo que não tem te
feito bem, daquilo que já não tem nenhum valor, e siga, siga novos rumos,
desvende novos mundos. A vida não espera. O tempo não perdoa. E a esperança, é
sempre a última a lhe deixar, já dizia Fernando Pessoa.
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