"O sofrimento das pessoas me
incomoda, dá para sentir o imenso choro da dor. Como posso ficar parada,
incessível e indiferente? Pois cada uma destas pessoas é parte minha, é
minha gente."
Uma pergunta que vira e mexe vem à tona é porque o
mundo é tão desigual, segundo Tim Maia "na vida a gente tem que entender que um nasce pra
sofrer enquanto o outro ri." O mundo é
um só e todos nós fazemos parte dele, todos nós somos responsáveis por ele, entretanto
me parece que algumas pessoas vieram à passeio.
Por mais que gostemos de nossa individualidade, nós
não somos seres individuais. O problema do outro é meu também. Nós não fomos
criados para apenas viver o nosso mundo, onde quase tudo dá certo, enquanto
alguém sofre do nosso lado. Se eu estou feliz, me importa sim se o outro sofre,
me incomoda e muito.
“Ninguém precisa virar um idealista revolucionário
para estender a mão ao próximo, ninguém precisa virar irmão de caridade pra
olhar por quem precisa. É no nosso dia-a-dia, no nosso trabalho, na nossa
família, no caminho por onde a gente passa que temos o dever de servir. É
olhando para o outro com amor, compreendendo nossas diferenças, se importando,
se pondo à disposição, se esforçando para dar o seu melhor, se colocando sempre
no lugar do outro, respeitando, dividindo o que é seu. O que para nós não custa
nada, para o outro pode ser tudo.”
Se tem uma cena que acaba com meu dia é eu estar no
meu carro descendo a Av. Nossa Senhora do Carmo aqui em BH, região sul, e ver
do lado de fora um senhor com problemas físicos, mentais e psicológicos se
arrastando entre os carros, juro, tenho vontade de morrer, me sinto um lixo.
Quando vou a algum restaurante nunca sento na calçada, não suporto ver
crianças, pessoas do lado de fora me olhando, com fome e com todos os tipos de
dores.
A dor do outro me incomoda, ao ponto de perguntar
para DEUS, porque ele e não eu? Não sei explicar, mas as diferenças sociais me
doem o corpo, a alma e o espírito.
Quando minha mãe tratava de câncer no Hospital da
Baleia, é um hospital público e 90% das pessoas tratadas não tem acesso a rede
de saúde particular, eu não suportava ver as pessoas ali morrendo em pé, a
maioria nem tinha noção do quão grave era a sua doença, pareciam alheio a tudo
e à todos, inertes, pois a letargia diante das notícias ruins e situações graves
deve fazer com que sofram menos.
“A dor do outro dói
em mim! Como não
senti-la? Como permanecer insensível à dor? A realidade é dura demais e nossos
olhos parecem não acreditar no que veem. A fome dói! A injustiça dói! A miséria
dói! O contato com a dor
do outro nos torna mais humanos, mais sensíveis, capazes de compaixão.”
Segundo Fabrício Carpinejar “a
minha dor, eu sei resolver. Ainda que seja a custo alto, sei resolver. Pode ser
com um calmante, um trabalho físico, um desabafo. Pode ser mexendo na horta,
organizando as roupas no armário, limpando a casa, questionando a Deus, sei
resolver. Ainda que demore, mas resolvo.
O que não sei resolver é a dor do outro. Fico
muda, meu braço sobra, minha mão falta, minha boca treme. A dor do outro não se
comunica. A dor do outro me isola. Tento uma brecha para falar, porém sinto-me intrusa e incômoda. Como uma casa em reforma, toda dor só é
compreensível no idioma da dor, quem está de fora não entende, não tem razão,
não alcança sentido. A dor não busca conselhos, a dor busca a pele para colocar
por cima, busca cicatrizar a ferrugem e a maresia.
A dor do outro me desfalca, me devassa, me faz
duvidar que podia ouvir. A dor do outro é a minha dor mais pessoal, porque é indiferente
a minha própria dor, é uma parada de ônibus sem ônibus porvir, uma parada de
ônibus para sentar e não ir. A dor do outro fica no lugar da dor, não suporta
um passo além do círculo de sua lembrança fixa.
Ela tem a altura de um grito que não é dado para
não desperdiçar a dor, ela não ri porque séria chega mais rápida ao fim da dor,
não se empresta, é dor de osso, dor que não se enxerga de dia e não se enxerga
de noite, é neblina com a roupa presa nos galhos, é uma escada sem mureta, sem
apoio.
A dor do outro me esconde, me segrega, me
empurra com os cotovelos para onde não desejava voltar. A dor do outro me pede
ajuda para não ajudar. É severa como uma verdade antes da morte, severa como
uma mentira depois da morte. A dor do outro é banal, irrisória e tola para os
que não mergulharam em dor.
A minha dor, eu resolvo. A dor do outro, não
sei onde colocar, onde me colocar. Faço como minha avó Elisa. Quando alguém
recusava um abraço, ela pedia para devolver. Devolver o abraço é a dor do
outro.”
5 comentários:
Amei!!! Mto bom!!! Amo ler seu blog!!! Kris Lorenzoni
Sou suspeita não, gosto mesmo!!! Amo ler essas coisas na net!!!! Bjim amiga e continue!!!! Kris Lorenzoni
Não faço tudo. Mas faço o q posso a quem estiver sofrendo do meu lado... Eziana Sousa Soares
Como sempre sensacional!!! Vc parece que lê nosso pensamento.... Esta semana que passou foi este assunto que dominou meu pensamento. Uma família com um bebê se instalou em uma barraca ao lado do meu prédio. Que incômodo, que dor... Mesmo tentando ajudar, a gente se sente a pior das pessoas... Ainda perguntei pra DEUS, porque aquilo que atualmente é tão normal me incomodava daquele jeito. Mas incomoda sim!!! e muito!!!!! bjo e parabéns por mostrar aquilo que ninguém quer ver aquilo que muitas vezes preferimos fingir que não estamos vendo!!!! Michele Melo
Muito bom e muito bem escrito! A dor do outro é realmente um assunto que incomoda! Não poder fazer nada de grande de relevante é muito frustrante. A nossa pequenez em ajudar o próximo é enorme! Gostaria imensamente de viver num mundo mais justo, mais bem distribuído e consequente mais feliz! Parabéns Kika. Um abraço, Kátia Pessoa
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