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domingo, 23 de fevereiro de 2014

O sofrimento do outro me incomoda!




"O sofrimento das pessoas me incomoda, dá para sentir o imenso choro da dor. Como posso ficar parada, incessível e indiferente? Pois cada uma destas pessoas é parte minha, é minha gente."

Uma pergunta que vira e mexe vem à tona é porque o mundo é tão desigual, segundo Tim Maia "na vida a gente tem que entender que um nasce pra sofrer enquanto o outro ri." O mundo é um só e todos nós fazemos parte dele, todos nós somos responsáveis por ele, entretanto me parece que algumas pessoas vieram à passeio.

Por mais que gostemos de nossa individualidade, nós não somos seres individuais. O problema do outro é meu também. Nós não fomos criados para apenas viver o nosso mundo, onde quase tudo dá certo, enquanto alguém sofre do nosso lado. Se eu estou feliz, me importa sim se o outro sofre, me incomoda e muito.

“Ninguém precisa virar um idealista revolucionário para estender a mão ao próximo, ninguém precisa virar irmão de caridade pra olhar por quem precisa. É no nosso dia-a-dia, no nosso trabalho, na nossa família, no caminho por onde a gente passa que temos o dever de servir. É olhando para o outro com amor, compreendendo nossas diferenças, se importando, se pondo à disposição, se esforçando para dar o seu melhor, se colocando sempre no lugar do outro, respeitando, dividindo o que é seu. O que para nós não custa nada, para o outro pode ser tudo.”

Se tem uma cena que acaba com meu dia é eu estar no meu carro descendo a Av. Nossa Senhora do Carmo aqui em BH, região sul, e ver do lado de fora um senhor com problemas físicos, mentais e psicológicos se arrastando entre os carros, juro, tenho vontade de morrer, me sinto um lixo. Quando vou a algum restaurante nunca sento na calçada, não suporto ver crianças, pessoas do lado de fora me olhando, com fome e com todos os tipos de dores.

A dor do outro me incomoda, ao ponto de perguntar para DEUS, porque ele e não eu? Não sei explicar, mas as diferenças sociais me doem o corpo, a alma e o espírito.

Quando minha mãe tratava de câncer no Hospital da Baleia, é um hospital público e 90% das pessoas tratadas não tem acesso a rede de saúde particular, eu não suportava ver as pessoas ali morrendo em pé, a maioria nem tinha noção do quão grave era a sua doença, pareciam alheio a tudo e à todos, inertes, pois a letargia diante das notícias ruins e situações graves deve fazer com que sofram menos.

“A dor do outro dói em mim! Como não senti-la? Como permanecer insensível à dor? A realidade é dura demais e nossos olhos parecem não acreditar no que veem. A fome dói! A injustiça dói! A miséria dói! O contato com a dor do outro nos torna mais humanos, mais sensíveis, capazes de compaixão.”
Segundo Fabrício Carpinejar “a minha dor, eu sei resolver. Ainda que seja a custo alto, sei resolver. Pode ser com um calmante, um trabalho físico, um desabafo. Pode ser mexendo na horta, organizando as roupas no armário, limpando a casa, questionando a Deus, sei resolver. Ainda que demore, mas resolvo.
O que não sei resolver é a dor do outro. Fico muda, meu braço sobra, minha mão falta, minha boca treme. A dor do outro não se comunica. A dor do outro me isola. Tento uma brecha para falar, porém sinto-me intrusa e incômoda. Como uma casa em reforma, toda dor só é compreensível no idioma da dor, quem está de fora não entende, não tem razão, não alcança sentido. A dor não busca conselhos, a dor busca a pele para colocar por cima, busca cicatrizar a ferrugem e a maresia.

A dor do outro me desfalca, me devassa, me faz duvidar que podia ouvir. A dor do outro é a minha dor mais pessoal, porque é indiferente a minha própria dor, é uma parada de ônibus sem ônibus porvir, uma parada de ônibus para sentar e não ir. A dor do outro fica no lugar da dor, não suporta um passo além do círculo de sua lembrança fixa.

Ela tem a altura de um grito que não é dado para não desperdiçar a dor, ela não ri porque séria chega mais rápida ao fim da dor, não se empresta, é dor de osso, dor que não se enxerga de dia e não se enxerga de noite, é neblina com a roupa presa nos galhos, é uma escada sem mureta, sem apoio.

A dor do outro me esconde, me segrega, me empurra com os cotovelos para onde não desejava voltar. A dor do outro me pede ajuda para não ajudar. É severa como uma verdade antes da morte, severa como uma mentira depois da morte. A dor do outro é banal, irrisória e tola para os que não mergulharam em dor.

A minha dor, eu resolvo. A dor do outro, não sei onde colocar, onde me colocar. Faço como minha avó Elisa. Quando alguém recusava um abraço, ela pedia para devolver. Devolver o abraço é a dor do outro.”

5 comentários:

Anônimo disse...

Amei!!! Mto bom!!! Amo ler seu blog!!! Kris Lorenzoni

Anônimo disse...

Sou suspeita não, gosto mesmo!!! Amo ler essas coisas na net!!!! Bjim amiga e continue!!!! Kris Lorenzoni

Anônimo disse...

Não faço tudo. Mas faço o q posso a quem estiver sofrendo do meu lado... Eziana Sousa Soares

Anônimo disse...

Como sempre sensacional!!! Vc parece que lê nosso pensamento.... Esta semana que passou foi este assunto que dominou meu pensamento. Uma família com um bebê se instalou em uma barraca ao lado do meu prédio. Que incômodo, que dor... Mesmo tentando ajudar, a gente se sente a pior das pessoas... Ainda perguntei pra DEUS, porque aquilo que atualmente é tão normal me incomodava daquele jeito. Mas incomoda sim!!! e muito!!!!! bjo e parabéns por mostrar aquilo que ninguém quer ver aquilo que muitas vezes preferimos fingir que não estamos vendo!!!! Michele Melo

Anônimo disse...

Muito bom e muito bem escrito! A dor do outro é realmente um assunto que incomoda! Não poder fazer nada de grande de relevante é muito frustrante. A nossa pequenez em ajudar o próximo é enorme! Gostaria imensamente de viver num mundo mais justo, mais bem distribuído e consequente mais feliz! Parabéns Kika. Um abraço, Kátia Pessoa